Um desaparecido continente de milhões de anos atrás apareceu em um improvável lugar

Quando os geólogos da Universidade da Colúmbia Britânica estavam procurando por diamantes, eles depararam-se com algo bem mais precioso: evidências de um perdido continente aqui na Terra. O mais incrível é que algumas amostras geológicas que eles obtiveram continham fragmentos do material de um pedaço de terra há muito tempo desaparecido sob o oceano. Aquele foi, de fato, um achado único na vida. O que está pegando de surpresa os historiadores, no entanto, é a localização desse antigo continente.

Outro continente

Você provavelmente acha que sabe como é a Terra: vastas extensões de água, pequenas seções de terra seca em que nós, humanos, vivemos e a conhecida disposição de nossos continentes. Porém, nosso mundo nem sempre foi desse jeito. Era uma vez um outro continente.

Maior parte é água

Pois é, você pode ficar chocado ao saber, mas só 30% do nosso planeta é terra! Os 70% restantes são compostos por um material famoso por sua cor azulada. A maior parte disso - 96% ou mais - é água salgada do oceano. Na verdade, dado o quanto o planeta é feito de água, é uma maravilha que já tenhamos um desaparecido continente para começar.

Colossais oceanos

Aliás, se você prestou atenção nas aulas de Geografia, saberá que existem cinco oceanos na Terra: Atlântico, Índico, Pacífico, Antártico e Ártico. O maior desses corpos de água é o Pacífico, o qual se estende por mais de um terço do nosso planeta. Assim, onde os continentes se encaixam nisso?

Nada pequeno

Atualmente, temos seis continentes: América, Europa, Ásia, África, Antártida e Oceania. O maior de todos é a Ásia. Esse espaço compõe cerca de 30% da superfície terrestre da Terra e é o lar de aproximadamente 60% das pessoas em nosso mundo. A geografia, contudo, não é tão simples.

Curiosidades

Alguns continentes estão conectados. A Europa e a Ásia compartilham uma única massa de terra, às vezes chamada de Eurásia. Algumas pessoas até fragmentam a América em dois continentes, América do Norte e América do Sul, nem citando o subcontinente que é a América Central. Enfim, em um determinado momento, houve aquele perdido continente.

Pangeia

Embora as fronteiras entre os continentes possam parecer confusas agora, essas linhas já foram ainda mais indistintas. Isso porque costumava existir um único supercontinente conhecido como Pangeia. A Pangeia formou-se há centenas de milhões de anos, quando as placas tectônicas se moveram e uniram a terra.

Enormes placas

Isso com certeza pode ser familiar se você se saiu bem nas aulas de Geografia! Ao que tudo indica, a Terra tem sete enormes placas; seis ou sete de tamanho razoável e várias outras pequenas. Todas elas se movem e interagem.

100 milhões de anos atrás

Isso, inclusive, explica como montanhas, vulcões e terremotos conseguem surgir e nos ajuda a compreender os continentes que vemos hoje. Aparentemente, eles começaram a se formar cerca de 100 milhões de anos atrás, quando a Pangeia se dividiu.

Afastamento

Quando a Pangeia começou a se fragmentar, originou-se o Oceano Atlântico, o qual separou a América e a África. A Índia também se afastou da África. Já a Austrália e a Antártida, que ainda estavam unidas neste ponto, seguiram em direção ao Polo Sul. Dessa forma, as placas tectônicas indicam que a geografia da Terra está em constante mudança - o que significa que desaparecidos continentes são sempre possíveis.

Violentas consequências

As placas tectônicas são bastante violentas! Uns 50 milhões de anos atrás, fragmentos continentais começaram a colidir. Quando a África se chocou com a Europa, os Alpes foram formados. Os Himalaias apenas surgiram quando a Índia colidiu contra a Ásia. Ligando a América do Norte e do Sul, um estreito pedaço de terra apareceu. Para criar o mundo como o vemos agora, a Austrália também se separou da Antártida.

Perdidas terras

Bem definido, certo? Não exatamente. Ao longo do caminho, algumas massas de terra parecem ter se perdido. Uma delas é conhecida como Grande Adria - às vezes descrita como o sétimo continente. Para esclarecer, a Pangeia inicialmente se dividiu em duas diferentes partes principais. Laurásia no norte e Gonduana no sul. A Laurásia separou-se mais tarde para formar o que hoje conhecemos como América do Norte, Ásia e Europa. Gonduana, por outro lado, criou a Antártida, a Oceania, a América do Sul e a África... Entretanto, não foi somente isso.

Grande Adria

Gonduana também originou a Grande Adria, a qual supostamente era do mesmo tamanho da Groenlândia. Um estudo de 2019 concluiu que essa massa de terra se firmou sob a parte sul da Europa há cerca de 100 milhões a 120 milhões de anos.

Várias montanhas

Para começar, os cientistas acreditam que o continente da Grande Adria já estava parcialmente submerso. Afinal, à medida que se moveu em direção à camada interior do planeta - a qual é conhecida como manto -, sua própria superfície se desfez. O continente, então, elevou-se e eventualmente criou montanhas em diferentes países da Europa. Aí está por que que não podemos mais vê-lo.

Interessante metáfora

Um cientista chamado Douwe van Hinsbergen elaborou uma metáfora sobre como pode ter sido a submersão da Grande Adria. De início, ele comparou aquela massa de terra a um braço sendo empurrado para baixo de uma mesa. Confuso? Calma, vamos explicar!

Braço sob a mesa

Em 2019, van Hinsbergen disse ao Business Insider: "Suponha que você esteja usando um suéter... Conforme você empurra o braço para baixo da mesa, a manga do suéter fica para trás, dobrada e projetando-se para cima". Foi o que aconteceu com a Grande Adria. O especialista até esclareceu que as "dobras do suéter" formaram cadeias de montanhas em toda a Eurásia. Ao que parece, os Apeninos, os Alpes Suíços e os Himalaias foram todos causados pela Grande Adria.

Empurrada para baixo

De acordo com van Hinsbergen e outros pesquisadores, a Grande Adria separou-se da África há aproximadamente 220 milhões de anos. Cerca de 40 milhões de anos após isso, foi a vez de separar-se da Península Ibérica. Por um tempo, a Grande Adria provavelmente teria aparecido como uma série de arquipélagos. No entanto, há uns 100 e 120 milhões de anos, foi empurrada para o manto do planeta, estabelecendo-se abaixo do sul da Europa.

Últimos vestígios

Dando uma atualização de onde o desaparecido continente está agora, van Hinsbergen revelou: "As porções mais profundas se encontram hoje a uma profundidade de [1,5 mil km] abaixo da Grécia". Isso é muita coisa! O detalhe é que nem toda a Grande Adria está submersa sob a Europa. Parte dela permaneceu acima do nível do mar. Acredita-se, por exemplo, que Veneza e Turim, na Itália, e Ístria, na Croácia, já fizeram parte do continente.

Sob a América do Norte

Porém, existe algo mais que você precisa saber: geólogos da Universidade da Colúmbia Britânica depararam-se com outro pedaço de massa de terra. O mais interessante é que esse esquecido continente - que se partiu em fragmentos há cerca de 150 milhões de anos - nunca esteve escondido em um distante local. Pois é, encontrava-se esse tempo todo bem debaixo do nariz dos Estados Unidos. Isso porque partes das massas de terra surgiram agora em um dos vizinhos desse país.

Quimberlito

A descoberta desse perdido continente foi feita por acaso. Os geólogos estavam analisando amostras de quimberlito quando descobriram um antigo pedaço da crosta continental do planeta. Caso você não saiba, quimberlito é um tipo de rocha vulcânica a qual se formou no subsolo milhões de anos atrás.

Diamantes

Às vezes, o quimberlito sobe à superfície depois da atividade vulcânica. O melhor de tudo? As rochas podem conter diamantes. Não é de admirar que os geólogos estejam tão interessados! Contudo, naquela ocasião, a equipe da Universidade da Colúmbia Britânica descobriu algo muito mais raro.

Reveladores fragmentos

Você entendeu bem: os especialistas encontraram fragmentos de um desaparecido continente à espreita em suas amostras. Tais fragmentos já formaram parte do antigo cráton do Atlântico Norte - um rochoso pedaço da crosta terrestre que acabou se dividindo em massas de terra menores. Porções do cráton, a propósito, instalaram-se em diferentes partes do mundo.

Outros conhecidos fragmentos

Como sabemos disso? Em parte, graças a Maya Kopylova. Essa mulher é uma especialista em Geologia da Universidade da Colúmbia Britânica e, em 2020, contou à Live Science onde outros conhecidos pedaços da perdida massa de terra acabaram. Kopylova explicou: "Uma parte do cráton do Atlântico Norte hoje faz parte da Escócia".

Mais descobertas

Mais vestígios do cráton do Atlântico Norte já haviam sido localizados na Groenlândia e na região canadense de Labrador. O detalhe é que outro fragmento do antigo continente se encontra em um específico ponto da América do Norte e foi descoberto por Kopylova e sua equipe.

Achados canadenses

Para sermos mais exatos, esses pedaços do antigo continente foram vistos em amostras de quimberlito retiradas do norte do Canadá. À Live Science, Kopylova revelou: "Encontramos mais um fragmento na ilha de Baffin". Em outra declaração divulgada pela Universidade da Colúmbia Britânica, a geóloga esclareceu o significado da descoberta.

Preenchendo as lacunas

Kopylova falou: "Encontrar esses pedaços 'desaparecidos' é como encontrar a peça que falta em um quebra-cabeça. O quebra-cabeça científico da Terra antiga não pode ser completo sem todas as peças". Isso, entretanto, não é tudo o que sabemos. Devido à localização das novas amostras, o cráton do Atlântico Norte poderia ser aproximadamente 10% maior do que pensávamos.

Toda uma análise

Todavia, o cráton do Atlântico Norte, o qual se separou há cerca de 150 milhões de anos, não é o único perdido continente. Portanto, identificar de onde vieram originalmente as amostras da ilha de Baffin exigiu toda uma análise por parte dos cientistas. Felizmente, eles sabiam o que procuravam.

Composição do manto

As partes do manto da Terra sob os velhos continentes são compostas por 65% de olivina - um mineral. O ortopiroxênio responde por outros 25%. O manto sob o cráton do Atlântico Norte, no entanto, possui uma química um pouco diferente. Tanto que é uns 85% de olivina e 10% de ortopiroxênio.

Um grande avanço

Dessa maneira, os cientistas puderam comparar com a proporção dos minerais encontrados nos mantos superiores. Como resultado, Kopylova afirmou que eles eram capazes de dizer "com segurança" que partes da ilha de Baffin já foram ligadas ao cráton da América do Norte.

Microscópicas pistas

Em um comunicado no site da Universidade da Colúmbia Britânica, Kopylova acrescentou: "A composição mineral de outras porções do cráton do Atlântico Norte é tão única que não houve dúvida... Foi fácil juntar as peças. Os antigos crátons adjacentes no norte do Canadá - no norte de Quebec, no norte de Ontário e em Nunavut - têm mineralogias completamente distintas".

Foguetes subterrâneos

Kopylova, aliás, explicou como as amostras de diamantes da ilha de Baffin levaram a uma descoberta tão significativa. Ela expôs: "Para os pesquisadores, os quimberlitos são foguetes subterrâneos que embarcam passageiros em caminho da superfície… Tais passageiros são sólidos pedaços de paredes rochosas que carregam uma riqueza de detalhes relativas às condições muito abaixo da superfície do nosso planeta ao longo do tempo". Isso faz com que eles sejam mais úteis do que você pensa!

Emocionante notícia

As amostras coletadas da ilha de Baffin, porém, vieram de um ponto ainda mais subterrâneo do que outros locais contendo fragmentos de cráton do Atlântico Norte. Bem, isso é simplesmente emocionante para os geólogos. Em resumo, essa descoberta pode melhorar muito a compreensão dos pesquisadores sobre os antigos continentes desaparecidos da Terra.

Indo mais fundo

Kopylova esclareceu à Live Science: "Reconstruções anteriores do tamanho e da localização das placas da Terra foram baseadas em amostras de rocha relativamente rasas na crosta, formadas em profundidades de [1 a 9 km]. Com essas novas descobertas, nosso conhecimento é literal e simbolicamente mais profundo".

Chegando ao fundo

"Com essas amostras, somos capazes de reconstruir as formas dos antigos continentes com base em rochas mais profundas do manto", adicionou Kopylova em sua declaração dada à Universidade da Colúmbia Britânica. "Agora podemos entender e mapear não só a camada mais fina da Terra que compõe 1% do volume do planeta".

Antigas placas

Por causa das descobertas da ilha de Baffin, os cientistas puderam juntar as antigas placas da Terra em um nível muito mais profundo do que antes. As estimativas anteriores foram baseadas nas rochas formadas em 1 a 9 km de profundidade. Após o último achado, contudo, Kopylova revelou algumas novidades que podem ter encantado os especialistas. "Podemos juntar fragmentos [de 200 km] de profundidade e compará-los com base nos detalhes da mineralogia profunda", contou ela. Pois é, isso é algo bastante importante.

Valiosas amostras

Essas amostras da ilha de Baffin foram retiradas de propriedades na província de Chidliak Kimberlite. Originalmente, a exploração era feita pela Peregrine Diamonds - uma empresa que foi adquirida há um tempo pela De Beers. Os fragmentos em si são extremamente caros e custam muito dinheiro para serem coletados. Não admira que eles acabem contando com diamantes!

Uma parceria nada convencional

Assim, é óbvio que a equipe da Universidade da Colúmbia Britânica agradeceu a Peregrine Diamonds e a De Beers por permitir que eles analisassem as amostras. Em uma declaração, Kopylova destacou: "Nossas empresas parceiras demonstram muita boa vontade ao fornecer amostras de pesquisa para a UBC, o que possibilita fundamentais estudos e o treinamento de vários estudantes de pós-graduação". Entretanto, os negociantes de diamantes também ganharam algo com isso.

Mais chances de enriquecer

Em troca das amostras, os geólogos ajudariam as empresas de exploração de diamantes a localizar joias preciosas no futuro. Kopylova explicou: "Por sua vez, a pesquisa da UBC fornece à empresa informações a respeito do profundo manto diamantífero, o qual é essencial para mapear a parte do cráton com as maiores alterações na intenção de apoiar uma bem-sucedida mina de diamantes".