Em um abandonado parque de animais silvestres, uma estranha silhueta foi vista dentro de um tanque de água turva

No sul da Austrália, em um abandonado parque de animais selvagens, havia um enorme tanque repleto de uma escura substância verde. Mais conhecido como formol, este líquido é considerado potencialmente cancerígeno aos humanos. Porém, esta não é a razão pela qual esse tanque chamou tanta atenção na internet. Na verdade, o motivo disso está dentro do formol.

Localizado em Melbourne, Austrália, o parque Wildlife Wonderland, no Giant Earthworm Museum, atraía centenas de milhares de visitantes por ano. Em 2012, contudo, esse parque de animais silvestres foi fechado e, embora as atrações tenham sido recolhidas e realojadas, uma singular e sinistra relíquia foi deixada para trás. Então, seis anos depois, um youtuber descobriu o que restou nesse parque. No entanto, o que exatamente ele viu?

Bem, o Wildlife Wonderland - situado próximo à baía de Western Port - foi aberto em 1985 por um profissional do setor imobiliário chamado John Matthews. Além da exposição de minhocas gigantes, o parque também possuía áreas para coalas e vombates - animal nativo da Austrália -, um café e um restaurante. Inclusive, as exibições eram bastante populares, tanto que cerca de 350 mil pessoas visitavam anualmente essa atração turística.

Todavia, após o parque se tornar um sucesso, Matthews colocou seu negócio à venda. Foi assim que o Wildlife Wonderland foi entregue a um grupo de investidores chineses na virada do milênio. Depois disso, o lugar mudou de proprietário mais uma vez antes de ser fechado.

Por fim, um departamento do governo da Austrália, chamado Department of Sustainability and Environment (DSE), anunciou o fechamento do Wildlife Wonderland. De acordo com o DSE, o gestor do parque administrava o local sem a licença necessária. Em razão disso, o Wildlife Wonderland foi forçado a fechar em fevereiro de 2012.

De todo modo, o departamento forneceu ao gestor muitas oportunidades de adquirir essa licença. Ryan Incoll, funcionário do DSE, evidenciou isso em 2012 ao falar sobre o assunto com a ABC News da Austrália. Ele relatou: "Houve uma série de visitas de nossos oficiais, responsáveis pela vida selvagem, ao parque para conversar com o gestor [e] ajudá-lo na obtenção dessa licença. Mas ele nunca estava lá".

Além dessas questões administrativas, o Wildlife Wonderland também foi assolado em seus últimos anos por alegações de maus-tratos aos animais. Na época do fechamento do parque, o DSE estava investigando essas denúncias. Dessa forma, com a ajuda da RSPCA, 130 animais que viviam no local foram transferidos para o Santuário Healesville - um zoológico especializado em animais silvestres nativos, o qual fica na área rural do estado de Vitória.

Ainda que o lugar esteja abandonado hoje em dia, ele não parou totalmente de receber visitas. Afinal, assombrosas imagens do deteriorado parque têm rodado pela internet, comprovando que invasores estiveram no Wildlife Wonderland.

Assim, em 2018, o explorador urbano Luke McPherson aventurou-se nesse parque e filmou seu percurso pelas abandonadas salas de exposições. Em um vídeo de quase 29 minutos, é possível ver o quão destruída a atração turística se tornou, com sujeira e poeira cobrindo cada parte da construção.

Até a entrada do parque está em condições precárias, exibindo lagoas que se assemelham mais a pântanos. No vídeo, aliás, ao aproximar-se do local, McPherson depara-se com um alpendre em ruínas. Lá, em meio aos espalhados detritos e às danificadas cercas, uma placa indica o antigo habitat dos vombates.

Então, McPherson segue para a primeira sala, a qual - de acordo com um aviso torto - havia sido um berçário para pequenos vombates órfãos. Enquanto o teto continua sendo constituído por um material parecido com pelagem de animal, as rochosas paredes são cobertas por rabiscos e grafites. Apesar de ser uma lamentável visão, a área ainda traz memórias dos dias em que foi um lar para os animais.

McPherson e seu companheiro desbravam o estabelecimento e esbarram em resquícios do antigo parque. As imagens dos animais permanecem nas paredes junto com as informações complementares para os visitantes. Já as rochas ao redor das antigas atrações podem ter sido colocadas por curiosas crianças em busca de uma melhor visão dos animais.

Entretanto, o espaço que abrigava esses animais não foi a única parte que ficou uma bagunça. Ao continuar com sua visita pelo parque, McPherson e seu amigo passam por uma série de salas que podem ter sido escritórios e locais de moradia. Inclusive, é difícil determinar isso apenas a partir da filmagem, dado que cada sala apresenta um desordenado vestígio do que havia sido antes.

 

Desde mesas e estantes até sofás e guarda-roupas, há móveis por toda parte. Conforme McPherson, quem usufrui disso são os gambás, os quais se sentem em casa no Wildlife Wonderland. No entanto, parece que os gambás não são os únicos a viver ali, já que existe um grande número de colchões espalhados pelo abandonado local.

Pois é, há indícios de que os sem-teto viveram no abandonado parque. McPherson encontra não só embalagens de alimentos com a data de janeiro de 2017, como também um leite na geladeira com a data de abril de 2016. Dessa maneira, visto que os exploradores urbanos não encontraram ninguém durante a visita deles, a única certeza é que essas pessoas moraram ali no passado.

Contudo, as descobertas não param por aí. Em uma outra sala, McPherson tropeça em uma pilha de roupas infantis e avista também um carrinho de bebê, uma escova de cabelo e alguns brinquedos. No meio disso, encontram uma revista a qual sugere que tais objetos foram deixados em 2015 - três anos após o fechamento do parque. Supõe-se, portanto, que uma família tenha vivido naquele lugar em algum momento.

Todavia, isso não é a coisa mais estranha que a dupla descobre durante a visita ao parque. Sem saberem, McPherson e seu colega aventuram-se em uma área que abriga a única atração restante do Wildlife Wonderland, sendo esta a parte do vídeo que mais interessou o público no mundo todo.

Devido a esta incrível descoberta, o vídeo do McPherson tem sido muito assistido na internet, alcançando mais de 15 milhões de visualizações e quase trinta mil comentários desde que foi postado. Ao viralizar, essa filmagem também fez com que bastante atenção fosse concentrada no esquecido e abandonado parque de animais selvagens.

Entre esses comentários, grande parte das pessoas encontrava-se chocada e espantada pelo que McPherson e seu companheiro descobriram. Os últimos minutos do vídeo, aliás, surpreendeu demais o público. Um usuário até escreveu: "[O parque] fechou e [o pessoal] literalmente largou tudo e foi embora. Não dá para acreditar que deixaram até comida na geladeira e antigas fotos da família".

De qualquer maneira, ainda que a maioria das coisas abandonadas ali sejam um pouco assustadoras, naquele período havia uma, em específico, bem mais sinistra. A verdade é que quando esses dois entraram na propriedade, eles não esperavam encontrar um dos maiores predadores da natureza ali. Porém, é exatamente isso que eles veem ao entrar em uma sala.

The Great White Shark

No vídeo, à medida que a câmera se movimenta, vemos placas nas paredes referindo-se a "uma boca cheia de dentes" e "o gigante da Ilha Phillip". Em seguida, McPherson altera a direção do seu olhar e exclama em voz alta: "Mas o que? Vocês conseguem ver isso?". Sim, flutuando em um tanque repleto de líquido verde está um enorme tubarão-branco. Apesar do animal não estar mais vivo, sua arrepiante silhueta é o suficiente para acelerar o coração de qualquer um.

Portanto, depois de ver o vídeo de McPherson no YouTube, Don Kransky dirigiu-se ao abandonado parque de animais silvestres para ver com os seus próprios olhos esse tubarão. Desse modo, com "respiradores a gás dolorosamente caros" para se protegerem do formol, Kransky e seu amigo logo encontraram o que estavam procurando. "De início, foi difícil distinguir o tubarão", contou Kransky para o site Vice em 2019. "Mas deixamos nossos olhos se acostumarem [com o ambiente] e, assim, sua forma emergiu, marcada pela luz vinda através de um buraco no telhado".

Inclusive, o formol nem sempre foi verde; ele alterou sua cor por conta de danos no tanque. "[O líquido desse] grande tanque está turvo porque os filtros não estão funcionado", informou um visitante ao Phillip Island & San Remo Advertiser em 2019. "Não foi possível alcançar o tubarão, porque o vidro tem mais de 5 cm de espessura. [Também] há vapores de formol saindo pela tampa. É desagradável".

Ao fim, essa atração foi de fato abandonada. Em 2019, McPherson comentou a Seven Network: "O tanque era enorme e estava em más condições, com uma enferrujada estrutura de metal e quebrados pedaços de vidro e lixo jogados lá dentro". Conforme o esperado, ele só conseguiu ficar na sala por um ou dois minutos antes do nocivo odor dos vapores de formol ficar forte demais.

Inicialmente, no entanto, o tubarão - o qual tem sido chamado de Rosie - não foi destinado a ser observado por turistas. Pelo contrário, em 1997, o tubarão-branco de mais de 4,5 m foi atraído para redes de pesca repletas de atum e, então, abatido para proteger os mergulhadores que trabalhavam lá. Em 2019, o historiador local Eric Kotz disse ao jornal Port Lincoln Times: "O argumento para matar [Rosie] era que cinco mergulhadores e outros trabalhadores na área estavam em risco".

Dessa maneira, Rosie foi armazenada em um ambiente com temperaturas negativas pela família Lukin, a qual é responsável pelas redes de pesca que haviam capturado esse enorme animal. Após um tempo, a atração ecoturística Seal Rocks Sea Life Centre - conhecida atualmente como Nobbies Centre - manifestou interesse em comprar o tubarão para exposição. Entretanto, os proprietários acabaram decidindo que não queriam tomar posse do animal, dando espaço para o Wildlife Wonderland intervir.

O problema mesmo foi transportar essa criatura de mais de duas toneladas para a pequena cidade de Bass. Afinal, essa tarefa resultou em um enorme empreendimento logístico, sendo necessário construir uma imensa estrutura de aço para ser colocada dentro do caminhão frigorífico. Contudo, ao chegar na fronteira do estado, o governo da Austrália Meridional apreendeu o veículo.

Segundo Max Bryant, funcionário do Wildlife Wonderland, Rosie foi confiscada devido a um caso em andamento de uma pessoa desaparecida. "Uma mulher tinha sumido em uma praia e eles pensaram que ela poderia estar dentro do tubarão", relatou ele ao Phillip Island & San Remo Advertiser. "O tubarão foi levado ao South Australian Museum, onde foi descongelado e dissecado. Mas a mulher não foi encontrada ali".

Quando concluíram a investigação, Rosie foi colocada dentro de um tanque criado especificamente para ela. Depois disso, ao longo de alguns meses, esse tubarão-branco foi curado pelo uso do formol. Durante esse período, aliás, o estômago de Rosie começou a deformar e ela precisou ser preenchida com fibra de poliéster. Desse modo, trazer o tubarão para o Wildlife Wonderland custou cerca de 500 mil dólares ao parque.

Todavia, nem tudo se resolveu quando Rosie chegou ao parque de animais selvagens. Afinal de contas, os proprietários tiveram que elaborar uma nova sala para o tubarão - antes, claro, de tirarem o telhado e usarem um guindaste para levar o tanque para dentro. Inclusive, um bunker de concreto também precisou ser feito sob a construção para dar conta de qualquer potencial vazamento de formol proveniente do tanque, o qual necessitava de contínua filtragem e monitoramento.

Apesar dessa questão, o esforço e o dinheiro gasto para trazer e estabelecer Rosie no Wildlife Wonderland parecia, a princípio, ter valido a pena. O número de visitantes no parque ter aumentado era uma prova disso. Como as pessoas se aglomeravam ali para ver Rosie - o maior tubarão preservado naquele tempo -, naturalmente, ela tornou-se o ponto principal de toda exposição sobre os enormes tubarões-brancos.

Ao longo dos anos, então, Matthews recebeu muitas ligações as quais pediam para que ele voltasse a expor o tubarão. Porém, como foi um pesadelo logístico trazer Rosie para o parque, mudá-la de local daria um "tremendo trabalho", como ele disse ao Phillip Island & San Remo Advertiser. "[Rosie] era uma atração e tanto, me dá até calafrios toda vez que me recordo dela", acrescentou Matthews. "Eu nunca mais voltei lá desde que vendi [o estabelecimento]".

A verdade é que nem todos ficaram longe dali. Tanto que, após o vídeo do McPherson ter viralizado, as pessoas começaram a visitar ainda mais o lugar. Embora a polícia local tenha deixado avisos para que fiquem longe e não invadam o parque, alguns vândalos entraram na propriedade e tentaram quebrar o tanque de Rosie. Dessa forma, esses intrusos não conseguiram arrebentar o vidro de aproximadamente 7,5 cm, mas quebraram o suficiente para liberar um pouco do perigoso vapor cancerígeno dentro dele.

Ainda que o formol se encontre no ar que respiramos, ele está em níveis extremamente baixos. Assim, não é realmente arriscado - exceto para aqueles que já são mais suscetíveis a dificuldades respiratórias. No entanto, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, altos níveis de exposição ao formol vêm sendo associados aos cânceres de pulmão e de boca.

Além disso, o contato com a substância também pode resultar em doenças, como pneumonia e dermatite. Em áreas fechadas ou mal ventiladas, pode até matar por asfixia. Em 2019, contudo, um porta-voz da Autoridade de Proteção Ambiental de Victoria disse ao News.com.au que estava "ciente do tubarão e do tanque e não os considerava perigosos".

Enquanto isso, à medida que a notícia de Rosie começou a se espalhar, alguns ativistas criaram uma página no Facebook chamada "Salve Rosie, o Tubarão" e essa estratégia pareceu funcionar. Em fevereiro de 2019, foi noticiado que os proprietários do Wildlife Wonderland haviam providenciado o transporte do animal até ao centro de exposição Crystal World, o qual abriga a maior coleção do mundo de cristais, pedras preciosas e minerais.

Depois do danificado tanque de Rosie ter passado por um longo processo de restauração, o Crystal World incluiu o tubarão-branco ao Prehistoric Journeys Exhibition Centre. Essa movimentação teve início quando Sharon Williamson, funcionária desse centro, viu uma publicação sobre a feroz criatura no Facebook. Dessa maneira, ela logo começou uma campanha para que o proprietário do seu local de trabalho salvasse o tubarão.

"Se não fosse isso, [Rosie] iria parar em um aterro sanitário", comentou Williamson ao jornal Herald Sun em 2019. "Foi uma questão de logística retirá-la dali e esvaziar [o tanque]". Aliás, conforme o diretor do Crystal World, Tom Kapitany, Rosie estava em condições surpreendentemente boas, visto que havia sido abandonada por anos. No momento, portanto, o centro pretende preservar por séculos o tubarão na glicerina.

"Eu disse a minha equipe: 'Vá e salve [Rosie]. Não me importa quanto vai custar; apenas salve ela'", disse Kapitany ao Port Lincoln Times. "Eu não podia ver um animal tão bonito, morto ou vivo, destruído [daquele jeito]". Conforme Trent Hooper, o criador da página "Salve Rosie, o Tubarão”, parece que essa tática de divulgação funcionou bem. Ao Daily Mail, ele disse: "Este é um resultado muito bom. A Austrália se uniu para salvar Rosie e dar a ela um lar para sempre no Crystal World".

Enquanto isso, para Kapitany, salvar esse grande tubarão significava preservar o passado dele, inclusive, dos danos que seu tanque sofreu pelos vândalos no Wildlife Wonderland. Desse modo, após anos em um abandonado parque, Rosie finalmente voltará a ser exposta e sem qualquer custo para os visitantes. Além disso, todo o dinheiro ali arrecadado com a venda de produtos relacionados ao tubarão-branco será doado para o estudo e para a conservação dos tubarões - uma adequada continuação da incrível história desta criatura.